O neurótico excesso de cuidado


No domingo de ontem, enquanto minha esposa ensaiava na AJOTE para apresentar a noite a peça “Entre a Espada e a Rosa”, fiquei com minha filha na nova praça da cidade, chamada “parque da águas” ao lado da antiga fábrica da Antarctica, uma pracinha gostosa, bem arborizada e com algo difícil de se ver na cidade do príncipes: grama.

Quando vim para Joinville há dez anos, cheguei a pensar que algo estranho havia com os moradores da cidade, visto que a relação deles com as britas era mais próxima que o normal. Comprovei isso ontem, dos mais de doze pais e mães e avós que passaram pela pracinha naquelas quase duas horas que fiquei por ali, ninguém, repito, ninguém ousou colocar os pés na grama, a não ser eu e a filhota. A Aninha chegou a dormir na grama, coloquei um paninho e ela dormiu na relva, na sombra de uma árvore. Uma criança ainda perguntou: “pai pode pisar na grama?”, o pai olhou para os lados procurando uma placa de “proibido pisar na grama”, mesmo não encontrando a mesma, disse: “não filho”, perdendo uma boa oportunidade de colocar os pés na terra.

Mas o que me assustou mesmo foi o excesso de cuidado, chegando a ser algo meio neurótico. Na tal praça existe um brinquedo, um escorregador, ou melhor, dois escorregadores, ligados um ao outro por uma passarela, algo parecido com uma ponte do Indiana Jones.  Os pais colocavam os filhos no topo do escorregador, e as crianças só escorregavam segurando a mão dos pais e depois só subiam novamente se o pai colocasse no topo, escada nem pensar.

Ouvi não sei quantas vezes os sonoros “não, uma dezena de vezes “não, aí não pode”. Mais uma infinidade de: “Você vai se machucar”.  Um pai neurótico e provavelmente com uma imaginação fértil para desgraças falou ao filho: “Não filho, você vai cair e cortar a boca, daí teremos que ir para o hospital levar ponto”. Caraca, pensei, de onde está vindo esse excesso de cuidado? E depois uma outra pergunta me surgiu em seguida: Que tipo de pessoas serão essas crianças excessivamente cuidadas no futuro?

Ps: outra triste observação: nenhum pai ficou na praça mais do quinze minutos

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