DEUS SEGUNDO SPINOZA


Dia 21 de março.  Dia internacional contra a Discriminação Racial.

Bom, para mim já acho estranho o enunciado dessa data, ao meu ver raça é só uma, a humana. De qualquer maneira é um bom começo e uma maneira de combater o que se vê hoje na Comissão de Direitos Humanos.
Para iniciar o bom combate, indico o texto abaixo.
Esse texto recebi de meu grande amigo e irmão Marco Aurélio. No dia que li, me emocionei muito, espero que se alguém vier até este espaço virtual, possa se emocionar também:

Deus, segundo Spinoza, teria dito:

“Pára de ficar rezando e batendo o peito!
O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.
Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste
e que acreditas ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias.
Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Pára de me culpar da tua vida miserável:
Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.
O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria.
Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo.
Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho...
Não me encontrarás em nenhum livro!

Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Pára de ter tanto medo de mim.
Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo.
Eu sou puro amor.

Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar.
Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres,
de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.
Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?
Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez?

Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos
que não se comportem bem, pelo resto da eternidade?
Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei;
essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.
Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti.
A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida,
que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho,
nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.
Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre.
Não há prêmios nem castigos.
Não há pecados nem virtudes.
Ninguém leva um placar.
Ninguém leva um registro.

Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.

Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho.
Vive como se não o houvesse.
Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar,
de amar, de existir.

Assim, se não há nada,
terás aproveitado da oportunidade que te dei.

E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não.
Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste...
Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar.
Eu não quero que acredites em mim.
Quero que me sintas em ti.
Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada,
quando agasalhas tua filhinha,
quando acaricias teu cachorro,
quando tomas banho no mar.

Pára de louvar-me!
Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja?
Me aborrece que me louvem.
Me cansa que agradeçam.
Tu te sentes grato?
Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.

Te sentes olhado, surpreendido?...
Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim.
A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo,
e que este mundo está cheio de maravilhas.

Para que precisas de mais milagres?
Para que tantas explicações?

Não me procures fora!
Não me acharás.
Procura-me dentro...
aí é que estou,
batendo em ti.

Baruch Espinosa (Filósofo-pensador [1632-1677] Amsterdã - Haia)

Dica de filme: I AM


Meu grande amigo Maikon K., um dia deixou lá em casa um livro e me disse, “leia, você vai gostar”, ficou lá em casa de prateleira em prateleira, o livro? “Você não pode ser neutro num trem em movimento”. De Howard Zinn.



Muito tempo depois, assistindo o documentário I AM, dou de cara com Howard Zinn neste filme inesquecível. 

Um bom filme para ver uma vez de tempos em tempos e se locupletar de vontades, de várias vontades.

O diretor, que ao tentar descobrir "O que está errado no mundo?" e "Que podemos fazer sobre isso?" acaba descobrindo algo impressionante sobre nós, viajantes desse trem-escola-de-almas chamado Terra.

O neurótico excesso de cuidado


No domingo de ontem, enquanto minha esposa ensaiava na AJOTE para apresentar a noite a peça “Entre a Espada e a Rosa”, fiquei com minha filha na nova praça da cidade, chamada “parque da águas” ao lado da antiga fábrica da Antarctica, uma pracinha gostosa, bem arborizada e com algo difícil de se ver na cidade do príncipes: grama.

Quando vim para Joinville há dez anos, cheguei a pensar que algo estranho havia com os moradores da cidade, visto que a relação deles com as britas era mais próxima que o normal. Comprovei isso ontem, dos mais de doze pais e mães e avós que passaram pela pracinha naquelas quase duas horas que fiquei por ali, ninguém, repito, ninguém ousou colocar os pés na grama, a não ser eu e a filhota. A Aninha chegou a dormir na grama, coloquei um paninho e ela dormiu na relva, na sombra de uma árvore. Uma criança ainda perguntou: “pai pode pisar na grama?”, o pai olhou para os lados procurando uma placa de “proibido pisar na grama”, mesmo não encontrando a mesma, disse: “não filho”, perdendo uma boa oportunidade de colocar os pés na terra.

Mas o que me assustou mesmo foi o excesso de cuidado, chegando a ser algo meio neurótico. Na tal praça existe um brinquedo, um escorregador, ou melhor, dois escorregadores, ligados um ao outro por uma passarela, algo parecido com uma ponte do Indiana Jones.  Os pais colocavam os filhos no topo do escorregador, e as crianças só escorregavam segurando a mão dos pais e depois só subiam novamente se o pai colocasse no topo, escada nem pensar.

Ouvi não sei quantas vezes os sonoros “não, uma dezena de vezes “não, aí não pode”. Mais uma infinidade de: “Você vai se machucar”.  Um pai neurótico e provavelmente com uma imaginação fértil para desgraças falou ao filho: “Não filho, você vai cair e cortar a boca, daí teremos que ir para o hospital levar ponto”. Caraca, pensei, de onde está vindo esse excesso de cuidado? E depois uma outra pergunta me surgiu em seguida: Que tipo de pessoas serão essas crianças excessivamente cuidadas no futuro?

Ps: outra triste observação: nenhum pai ficou na praça mais do quinze minutos

No futuro



No futuro, alguém vai me perguntar sobre a grande movimentação que foi feita na História da humanidade “naquele tempo”, ou seja, hoje.

Talvez um neto ou outro jovem qualquer tente entender “esse tempo”. Provável que se empolgue e fique nostálgico, diga que sente uma saudade idealizada e que “queria ter vivido naquela época”, teria lutado, teria isso, teria aquilo...

Nesses tempos, em que se viu um torneiro mecânico se tornar presidente, uma mulher se tornar presidenta, um negro comandar uma superpotência... Mesmo que todos ele tenham feito suas cagadas e que uma parte da população não goste muito deles, como será que a História falará desse tempo? Tempo de renúncias papais e de velhas-novas primaveras no Oriente médio, tempo de mudanças.

Sexta-feira, 01 de março de 2013, dia em que entrou em vigor a norma de serviço da Corregedoria-Geral, que obriga os cartórios do estado de São Paulo a celebrar o casamento homossexual.

Lá, mais de quarenta anos atrás, naqueles tempos que muitos pensamos que foram melhores que hoje, das lutas, dos festivais, do movimento hippie, da Tropicália e tudo mais. Um astronauta que chegou a lua disse, “um pequeno passo para o homem, mas um grande passo para a humanidade”. Repito a frase dele, e talvez diga para o jovem do futuro, que entre a chegada na lua e o dia de hoje, fico no hoje... É um bom dia para estar vivo...