Aos quarenta

Aos quarenta anos a vida fica um tanto mais simplificada.

Claro que a gente dá uma olhadinha no passado e pensa naquelas coisas que poderia ter feito, naquelas palavras que gostaria de ter dito, mas que ficaram entaladas na garganta durante décadas, daquele beijo que deveria ter dado sem se importar com tantas coisas que eram tão complicadas naquele tempo, naquele curso que deveria ter feito, naquelas mudanças que talvez devessem ter iniciado antes. Mas tudo bem, se vive igual, e incrível: somos os mesmo, cheios de medos, angústias e problemas. Os sonhos continuam e parece que a gente ainda está no início... a única diferença é que o tempo passou.

Mas no mais fica tudo mais leve.

Os amigos nessa idade são amigos daqueles que dizem que vão buscar a pá. Escutei essa história uma vez lá no Rio Grande, dizem que um amigo chegou com um corpo na casa de outro, o outro olhou para a carroça e sem perguntar nada disse: Peraí que vou buscar uma pá. Pois bem, nessa idade amigos são assim, poucos é verdade, mas não aceitamos mais que sejam chatos a ponto de encherem o saco, nem moralistas e muito menos donos da verdade. Diferente dos tempos em que se não tivéssemos amigos – nem que fossem malas - em um sábado a noite o desespero começava a bater. Aliás, o sábado a noite passa a ser um dia diferente aos quarenta. Aos quarenta o dia bom de sair é a quinta-feira, no sábado olhamos o pessoal na rua como se fossemos profissionais e ‘eles’, os amadores.

Já o amor aos quarenta ou é tudo ou nada. Não tem morno aos quarenta, não dá para ‘ver onde vai dar’, não tem ‘vamos ver’, não tem charminhos ou jogos. É tudo ou nada, e nada pela metade. 'O tempo ruge' ouvi alguém dizer uma vez, na hora ri, mas pensando bem creio que estava certo.

Problemas são resolvidos com uma simplicidade incrível nessa idade, coisas que seriam gigantescas tornam-se brincadeiras. Erros que cometemos agora que antes seriam motivo de desespero, são somente erros, é permitido errar, e depois dar uma risada de nossas falhas, como um velho companheiro que se achega e nos abraça, rindo e balançando a cabeça de uma lado para o outro.

Já algumas mudanças internas são mais difíceis, bem mais difíceis, mas deve ser coisa da idade...

O caminho do meio.

Ao fazer uma viagem interior, nos deparamos com duas possibilidades.


A primeira, julgamo-nos como carrascos, e tudo que fizemos foi o mal, tudo que fizemos foi errado, somos os últimos seres da face da terra. No altar das consciências de cada um, somente nós sabemos o que realmente se passa em nossas mentes. E as vezes, não são coisas tão boas de se pensar.

A segunda, é que somos muito flexíveis e coniventes conosco, sempre pensamos que: Ah, daqui uns dias eu resolvo isso! Ah, depois eu faço aquilo! Ah, eu consigo fazer isso na hora que eu quiser! O ego nessa viagem atrapalha, atrapalha muito. É ele que diz que está tudo bem, que ‘todo mundo é assim’, que podemos ir mais devagar, que podemos nos permitir algumas vezes certas coisas, ‘ah, só uma vez, pelos bons tempos’. E assim, o tempo vai passando... E nossa transformação sendo adiada. Para quando? Cada um é que sabe seu tempo.

Nem tão carrascos, nem tão coniventes. O equilíbrio seria o caminho mais ideal. Sermos sinceramente sinceros conosco. Conhecermos nossos erros, nossos vícios, nossas paixões, buscarmos o paz interior, mas conscientes que somos seres humanos.

Ciclos

A natureza se movimenta em ciclos. Assim como nossa vida. Cada amanhecer é o fechamento de um ciclo.


Quando se está no mato, é possível observar no início da manhã alguns insetos - daqueles que por sua própria natureza tem somente uma noite – morrendo lentamente. Outros, que viverão durante o dia – e somente aquele dia - nascem, para morrer ao entardecer.

Um constante morrer e renascer é parte do ciclo de nossas vidas.

Valem também para as diferentes etapas de nossa efêmera existência. Alguns ciclos se fecham e outros iniciam no mesmo momento.

Assim como minha vida encerrou um ciclo na última semana, resolvi que esse blog também deve passar pelo mesmo.